Então ela comia com as mãos mas acima de tudo com o corpo todo. Não me respondia nem me escutava, eu sentia que minha presença se tornava desagradável e deixei-a sozinha desfrutar daquele banquete que era o cachorro-quente e o refrigerante. Senti nojo e arrependimento e pensei que como tentar mudar alguma coisa não me agradou nem um pouco e minha consciência e alguma coisa como consciência social não tinham tocado o alarme eu jamais faria aquilo de novo; e pensei também que a educação é um privilégio de poucos, muito poucos. De longe eu vi que continuava comendo o cachorro-quente mesmo depois de acabado e com a mesma vontade e satisfação, e o refrigerante sobrava em dois dedos de líquido que à revelia de sua gula restavam sempre. De longe vi também que ela não me via. Antes de ir embora também pensei em passar-lhe uma descompostura e ensinar-lhe bons modos e agradecimentos. De longe estávamos, ela e eu. De longe eu desejei que ela se afogasse e como esperasse isso por uns instantes, ainda observei a ferocidade animal de mulher ao lado daquele manso vira-latas. O último pedaço da salsicha do cachorro-quente o cachorro dela comeu. Troglodita, mendiga, vagabunda, escória, nojenta foram umas das duas ou vinte idéias que aquela criatura me suscitava. Quando tudo terminou, a comida, a vontade e minha raiva pela deseducação dela, aquela mulher veio até mim como se estivesse olhando a tempos a minha posição, e sem desvirtuar o caminho chegou e disse: tu me desculpa, visse, faz um tempo que não como, mas isso não importa porque comer pouco é bom, cada vez que a gente come quase se esqueceu como é o gosto e fica melhor ainda de comer. Brigado, visse, que deus te abençoe, se precisar de alguma coisa me diz, visse. Antes de partir pensei no que ela poderia me ajudar caso precisasse, sorri. Troglodita, mendigo, vagabundo, escória, nojento foram umas de centenas de idéias que aquela criatura me impingia. Senti nojo e arrependimento e pensei que como tentar mudar alguma coisa não me agradou nem um pouco e minha consciência e alguma coisa como consciência social não tinham tocado o alarme eu jamais faria aquilo de novo; e pensei também, de novo, que a educação é um privilégio de poucos, muito poucos. Assim eu chorei.
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