Sunday, March 19, 2006

Sou quem não está para males nem menos
ainda dos que contemplam a chuva cair
gota a gota, como fosse
pedacinhos de sonho da Terra inteira.

Sou dos que se estiram
nos braços do pobre solo
e agita e saracoteia
querendo ser criança
outra vez e para sempre.

Sou daqueles que não podem mudar o mundo
e cujo mundo muda constantemente
que tem opiniões firmes
mas fraquezas inexoráveis.

E que desaprendeu a enxergar
Naquele instante em que conheceu a imagem.

Sou a imagem da figueira
numa delicadeza de lótus
passarinho surdo.

Sei posso ser um fio ideal
a idéia do fim
e presente que pensa
no passado cometendo
a inferência do futuro.

Sei que sou uma intempérie
e sei que sou atemporal.

Que sou mais um
entre tantos
entro todo
inteiro para ser um
a menos.

Penso que sou um navio
sem tripulante
à deriva num mar de areia
e ondas.

Eu sou amor
de cada um que prefere
eu vou ser pedacinho do meu coração-buraco:
e por onde passo e o deixo de mansinho
criam mais e mais um sítio vácuo.

Sou o flerte no espelho
Flor-de-maracujá:
Água de cheiro:
Tempestade em copo-de-leite.
Sou flora falecida.

Jovem dente-de-leão
apocopado decassílabo sáfico
Um cisco no olho d’água.

Alguém que pode te agradar
que pode amar demais
que pode matar alguém.

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