Wednesday, October 25, 2006

a preciosidade de Kriska.

Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma de mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, na cidade que é um avião, quando meu imão chegou pra me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo, as pontas dos meus dedos tocavam cheias de veneno a penugem inicipiente do meu peito ainda quente; minha cabeça rolava entropecida enquanto meus cabelos se deslocavam em grossas ondas sobre a curva úmida da fronte; deitei uma das faces contra o chão, mas meus olhos pouco apreenderam, sequer perderam a imobilidade ante o vôo fugaz dos cílios, o ruído das batidas na porta vinha macio, aconchegava-se despojado de sentido, o floco de paina insinuava-se entre as curvas sinuosas da orelha onde por instantes adormecia; e o ruído se repetindo, sempre macio e manso, não me perturbava a doce embriaguez, nem minha sonolência, nem o disperso e esparso trovelinho sem acolhimento; meus olhos depois viram a maçaneta que girava, mas ela em movimento se esquecia na retina como um objeto sem vida, um som sem vibração, ou um sopro escuro no porão da memória; foram pancadas num momento que puseram em sobressalto e desepero as coisas letárgicas do meu quarto; num salto leve e silencioso, me pus de pé, me curvando pra pegar a toalha estendida no chão; apertei os olhos enquanto enxugava minhas mãos, agitei em seguida a cabeça pra agitar meus olhos, apanhei a camisa jogada na cadeira, escondi na calça meu sexo roxo e obscuro, dei logo uns passos e abri uma das folhas me recuando atrás dela: era meu irmão mais velho que estava na porta; assim que ele entrou, ficamos de frente um para o outro, nossos olhos parados, era um espaço de terra seca que nos separava, tinha susto e espanto nesse pó, mas não era descoberta, nem sei o que era, e nãos nos dizíamos nada, até que ele estendeu os braços e fechou em silêncio as mãos fortes nos meus ombros e nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e foi então que ele ma abraçou, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharacados da família inteira; voltamos a nos olhar e eu disse "não te esperava" foi o que eu disse confuso com o desajeito do que dizia e cheio de receio de me deixar escapar não importava com o que eu fosse lá dizer, mesmo assim eu repeti "não te esperava" foi isso o que eu disse mais uma vez e eu senti a força poderosa da família desabando sobre mim como um aguaceiro pesado enquanto me abraçava mais uma vez; ainda confuso, aturdido, mostreu-lhe a cadeira do canto, mas ele nem se mexeu e tirando o lenço do bolso ele disse "abotoe a camisa, Miigo". Porto Alegrei-me.

6 Comments:

Blogger Jáder said...

ótimo!!! subjetivo no começo - ou eu continuo burro? -

e no fim... tão claro...

Felipe diria:
Ô TCHÊ quem tu comeu em Brasilia?

Abraço...

mas quero que me expliquees esse escrito despues.

8:08 PM  
Blogger Jáder said...

talvez eu deva ler de novo...

8:12 PM  
Blogger Felipe Martini said...

A primeira parte se refere a punheta, eu diria.

7:46 AM  
Blogger Hoffmann said...

ah, olha tchê, vocês são muito burros. De coração! Não sabem ler... e eu não tou brincando,tou falando o mais sério possível. E o seguinte, não querem comentar, não comentem. Agora, se eu vir um comentário desagradável vai ser bem triste (ouviu Felipe!?).

bando de bichonas mal-comidas.

nunca mais comento em blog nenhum.

10:59 AM  
Blogger Hoffmann said...

Jáder, acho que tu continua burro.
Felipe, "eu diria" é ótimo! se não sabes ler, não comenta. Se não sabes escrever, não escreve.
Se não sabes comer ninguém, não come, também, PORRA!

11:04 AM  
Blogger Eider Cruz said...

Uma família em porto alegre outra em brasília...

Tanto amor aqui...
Um pai lá...

Tantos irmãos te querendo aqui...
Só tu sabe o que te prende lá...

É de se embriagar...

3:20 PM  

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