Thursday, November 29, 2007

Idade dos Anjos
.....Esse ônibus parte tudo o coração parte de mim, porque parte de Porto Alegre. Eu também sou isto daqui – sou aquele pedaço interiorano e orgulhoso que veio de Alegrete com malas e cuias, mais malas que cuias é verdade por isso posso dizer que sou a maquete de Alegrete onde vá, mas eu também sou isto daqui carrego nos pulmões esta sujeira, tenho nos olhos as fotos 3x4 dos estúdios deste centro, e nos ouvidos ouço sempre o barulho do ônibus que me acorda quando a mãe vai trabalhar, o gritedo dos camelôs, sou camelo destes áridos. As bixas me dão cantadas é em porto-alegrês. Ela diz que amou Porto Alegre que é um caso de paixão e breve vem morar aqui; mas não, não faz assim, moça, eu namoro contigo, eu vivo junto de ti, te dou casa, comida e roupa lavada eu deixo de morar, de comer e de vestir por ti, guria, eu queria muito agora dizer o que tu quer ouvir, e crer que se eu te beijar vai ser bom e tu vai também mas eu não posso mais, guria, tu já vai embora e precisaria no mínimo dois dias de conversa hasta que eu encontrasse uma força porto-alegrense e te pegasse de jeito sem choramingos, sem jeito; olha! Vou ser tua Porto Alegre onde for, te acordarei com um beijo-pôr-do-sol onde estivermos. Nossa o ônibus vai sair, me dá outro abraço pra eu fingir que vou ter esta coragem, mas não me beija! Não cria esperanças aqui nesse coraçãozinho porto-alegrense tão teu que agora vai partir junto contigo, tu adorou me conhecer, então? E estas ruas, estas pombas desavergonhadas, estes prédios antigos e estes mendigos sorridentes? Ah, tu adorou estas fruteiras que não fecham de madrugada, guria? Tu adorou nosso sotaque? Tira essa lágrima do rosto sua vadia, meu amor, eu sei que não é por mim. Devolve tudo que tu levou, as impressões, essa erva-mate, o meu colar de índio, devolve porque esses pedaços que vão contigo são Porto Alegre e porto-me-alegro só contigo. Olha teu ônibus já vai, e tu já devia tirar esse sorriso choroso da cara, essa lágrima, esse sal e por nos olhos a minha foto, por na mão essa batidas aqui, ó, do lado esquerdo do peito, e ir esquecendo esse teu sotaque sem personalidade, guria, tu não é ninguém, tua terra não tem mar e tu não aprendeu a chorar, não gosto de pessoas medianas, e tu vem do meio, do palácio central, tu é centro e converge tudo aqui, tu é Brasil, meu amor, eu sou Brazil e venho de outro país querendo apreender tua língua.

2 Comments:

Blogger Hoffmann said...

http://umquetenha.blogspot.com/2007/11/renato-braz-quixote-2005.html

10:42 AM  
Blogger Cuevas said...

você é o Chico Buarque da minha geração, Cacau.

5:46 PM  

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