Wednesday, December 12, 2007

Filho de Peixe
.....Eu tinha viagem marcada para mais tarde, à Punta Del Leste, mais duas semanas longe dele, pensando às vezes que iria me esquecer e querer apenas à sua mãe, num ciúmes ridículo mas que eu sempre achei saudável. Todo o escritor tem disso, será que ele também ia escrever quando crescesse? Não me parecia tão esperto quanto eu na sua idade; era distraído e ingênuo, o meu filho. Adorava quando ele sentava à minha frente e dizia que ia trabalhar, evidentemente tendo minha profissão como referência. Tu vai viajar pra praia, pai?, eu queria ver o mar. Aquilo bem poderia ser motivo de meu abandono de emprego, tão apaixonado ele me deixava. Filho, o pai vai, mas volta, dessa vez não vou demorar,vou trazer conchinhas da praia, tá bem? Filho, eu te amo!. Ele me olhou sério, disse que ia me escrever – parou. Mar e amor combinam, pai?. Entendi a semântica sua e respondi: Mar e amor podem rimar, meu filho. Ele não ouviu direito e continuou com o lápis e o papel na mão, brancos os dois, meu filho e o papel, à espera de alguma idéia do lápis. Amor também rima com mar, pai? Rima com amar, amor e mar... sim, até com ar e lugar, o mar pode rimar. Isso mesmo, meu filho, tudo rima, e só a gente querer. Pegou no lápis como se dissesse alguma coisa a este com os olhos, meio bravo, deitou a folha na mês e se pôs a escrever. Pai, eu sou um poeta, olha: ‘ meu pai é o amor e eu sou seu mar, de tanto amar ele virou uma flor que voa no ar e em qualquer lugar meu pai pode rimar’. E ele, sorrindo, combinou toda a minha história naquele momento, poeta que era e não sabia. Me viu chorar e ainda quis ficar triste, sem direito algum, seus cinco anos me valiam a vida.
.....O meu filho era artista.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

eu vou ser sincera com você, meu braços abertos não são pernas abertas e nem puro o meu escarro e nem meu beijo.

9:03 AM  

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