Tuesday, May 25, 2010

Se eu alcançasse não me sentir entregue,
imberbe adolescente com seus dentes de leite,
meu esforço de estimação seria então escrever cartas em homenagem a todas as cidades por que passar. O tempo que for, e disso viver:
nos homens e ruas de qualquer cidade,
dos seus pombos e em todos os seus cheiros mais originais
catar a fímbria da minha pele; supor as fotografias que nunca perceberão
os passantes, a policia, uma donzela e seu cachorro - o trejeito da aristocracia esparso num mendigo louco. Conheceria cada folha do espaço, suas estações de nascimento e morte]
pichações e sua biografia, buracos na estrada, sítios de amores findos
pontos-de-encontro de suicidas, subúrbios de eternos insones, árvores patenteadas pelo hábito. Buscaria a companhia das construções de monumentos anônimos, repudiaria a música dos cantores cegos para, numa delicadeza de verso,
traduzir o meu corpo em cidade. Se eu alcançasse não me sentir entregue
a todos os lugares-comuns que reconheço, descrevo e lamento em cartas
longe de Porto Alegre.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Teu poema é como tu, que vive num mundo à parte, um mundo de ilusões- pra não dizer de mentiras-onde ninguém penetra de fato, tampouco o compreende.

5:44 AM  
Blogger Hoffmann said...

esse comentário é um poema.

8:22 AM  
Blogger Hoffmann said...

This comment has been removed by the author.

8:22 AM  
Blogger Felipe Martini said...

soy un iluso - dejame bailar!

9:16 PM  

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