Monday, October 29, 2007

Pedro Nava era escritor. Nasceu em 1903, em Juiz de Fora, Minas Gerais numa propriedade rural; seu pai era médico e fazendeiro, tendo morrido quando Pedro tinha oito anos. Formou-se médico também, à projeção do pai, fez sucesso, foi um grande homem. E só aos 69 anos descobriu que era escritor, antes de tudo escritor, mas depois de todos. Lançou quatro volumes de obras memorialísticas, contando desde sua infância. Novamente fez sucesso, triunfou como prosador e ganhou inúmeros prêmios. Drummond achava que ela era mais importante à literatura brasileira do que fora Proust à francesa. Drummond era seu amigo e admirador. Assim como Manuel Bandeira e Pablo Neruda, de quem se soube ter dito que “o defunto” - poema de Nava escrito na década de cinqüenta - era o melhor em língua portuguesa. Pedro Nava era casado desde 1943 com Antonieta. Em dez anos, desde seus 69 ele publicou quatro volumes de suas memórias e virou campeão de vendas. Em 1984, aos 80 anos num domingo à noite, em sua casa à companhia de sua mulher, atendeu o telefone, repassado por ela. Não disse nada enquanto ouvia. Desligou e disse à esposa “ Nunca ouvi nada tão obsceno na minha vida”. Saiu sem dizer onde, sentou num banco de praça e disparou contra sua cabeça um tiro de um revolver Taurus. Pedro Nava é considerado o mais fiel e importante autor memorialista da literatura brasileira por transmitir emoção e fidelidade aos fatos de sua vida. Por contar e recontar sua história com clareza e mestria. Tim-tim por Tim-tim. Então ele pega e voa de uma esfera à outra, da realidade, à literatura, faz e acontece, se mata e não conta nada. É no mínimo um engraçado. Por que diabos se matou Pedro Nava?

Obs: Quando morei em Brasília li seus quatro livros em um mês, os quatro gigantes, e me interessei muito. Depois passou e nunca mais ouvi falar dele, afora uns comentários nas revistas que assino. Acordei querendo saber por que ele se matou. O miserável deixou um livro inacabado, a última parte de suas memórias...