Wednesday, October 25, 2006

Prova de amor.

...."Meu bem, deixa crescer a barba para me agradar", pediu ele.
....E ela, num supremo esforço de amor, começou a fiar dentro de si e laboriosamente expelir aqueles novos pêlos, que na pele fechada feriam caminho.
....Mas quando, afinal, doce barba cobriu-lhe o rosto, e com ogulho expectante entregou sua estranheza àquele homem: "Você não é mais a mesma", disse ele.
....E se foi.

a busca da razão.

....Sofreu muito com a adolescência.
....Jovem, ainda se queixava.
....Depois, todos os dias subia numa cadeira, agarrava uma argola presa ao teto e, pendurado, deixava-se ficar.
....Até a tarde em que se desprendeu esborrachando-se no chão: estava maduro.

a preciosidade de Kriska.

Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma de mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, na cidade que é um avião, quando meu imão chegou pra me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo, as pontas dos meus dedos tocavam cheias de veneno a penugem inicipiente do meu peito ainda quente; minha cabeça rolava entropecida enquanto meus cabelos se deslocavam em grossas ondas sobre a curva úmida da fronte; deitei uma das faces contra o chão, mas meus olhos pouco apreenderam, sequer perderam a imobilidade ante o vôo fugaz dos cílios, o ruído das batidas na porta vinha macio, aconchegava-se despojado de sentido, o floco de paina insinuava-se entre as curvas sinuosas da orelha onde por instantes adormecia; e o ruído se repetindo, sempre macio e manso, não me perturbava a doce embriaguez, nem minha sonolência, nem o disperso e esparso trovelinho sem acolhimento; meus olhos depois viram a maçaneta que girava, mas ela em movimento se esquecia na retina como um objeto sem vida, um som sem vibração, ou um sopro escuro no porão da memória; foram pancadas num momento que puseram em sobressalto e desepero as coisas letárgicas do meu quarto; num salto leve e silencioso, me pus de pé, me curvando pra pegar a toalha estendida no chão; apertei os olhos enquanto enxugava minhas mãos, agitei em seguida a cabeça pra agitar meus olhos, apanhei a camisa jogada na cadeira, escondi na calça meu sexo roxo e obscuro, dei logo uns passos e abri uma das folhas me recuando atrás dela: era meu irmão mais velho que estava na porta; assim que ele entrou, ficamos de frente um para o outro, nossos olhos parados, era um espaço de terra seca que nos separava, tinha susto e espanto nesse pó, mas não era descoberta, nem sei o que era, e nãos nos dizíamos nada, até que ele estendeu os braços e fechou em silêncio as mãos fortes nos meus ombros e nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e foi então que ele ma abraçou, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharacados da família inteira; voltamos a nos olhar e eu disse "não te esperava" foi o que eu disse confuso com o desajeito do que dizia e cheio de receio de me deixar escapar não importava com o que eu fosse lá dizer, mesmo assim eu repeti "não te esperava" foi isso o que eu disse mais uma vez e eu senti a força poderosa da família desabando sobre mim como um aguaceiro pesado enquanto me abraçava mais uma vez; ainda confuso, aturdido, mostreu-lhe a cadeira do canto, mas ele nem se mexeu e tirando o lenço do bolso ele disse "abotoe a camisa, Miigo". Porto Alegrei-me.

Saturday, October 07, 2006

d´olvido.

essa vida, da vida,
não é vida sincera
é vida devida
é dúvida severa
essa vida calada
não é vida muda
é vida repensada
é dúvida graúda

de-trás-pra-frente.

das virtudes que não se repelem:
.............................. amar os beiços
............................................. eixos
......................................os lixos - revelem.
quem mais os dê!
.................................................. Nele - Kellen!
.................................................. Nele - Kauê.

à mares.

Amar é aquilo
aquela bosta
que a gente pensa que sente
quando não se gosta

22/12/04

Monday, October 02, 2006

Críticas, Dúvidas, ou Sugestões.

Quero o poema devasso
Terminado a cada gozo
Onde as palavras não doso
Onde o poema não faço...

Quero o poema disfarce
Onde vejam-me maestria:
Um convite para enlace!
Travestido em poesia...

Quero desta inimizade
Entre mim e a verdade
Entro senso e sensual:

Minha magistralidade
Seja menos qualidade
Seja bem mais animal!