Sunday, March 19, 2006

Sou quem não está para males nem menos
ainda dos que contemplam a chuva cair
gota a gota, como fosse
pedacinhos de sonho da Terra inteira.

Sou dos que se estiram
nos braços do pobre solo
e agita e saracoteia
querendo ser criança
outra vez e para sempre.

Sou daqueles que não podem mudar o mundo
e cujo mundo muda constantemente
que tem opiniões firmes
mas fraquezas inexoráveis.

E que desaprendeu a enxergar
Naquele instante em que conheceu a imagem.

Sou a imagem da figueira
numa delicadeza de lótus
passarinho surdo.

Sei posso ser um fio ideal
a idéia do fim
e presente que pensa
no passado cometendo
a inferência do futuro.

Sei que sou uma intempérie
e sei que sou atemporal.

Que sou mais um
entre tantos
entro todo
inteiro para ser um
a menos.

Penso que sou um navio
sem tripulante
à deriva num mar de areia
e ondas.

Eu sou amor
de cada um que prefere
eu vou ser pedacinho do meu coração-buraco:
e por onde passo e o deixo de mansinho
criam mais e mais um sítio vácuo.

Sou o flerte no espelho
Flor-de-maracujá:
Água de cheiro:
Tempestade em copo-de-leite.
Sou flora falecida.

Jovem dente-de-leão
apocopado decassílabo sáfico
Um cisco no olho d’água.

Alguém que pode te agradar
que pode amar demais
que pode matar alguém.

Saturday, March 04, 2006

Claro que há impessoalidade no sentimento das coisas; da transa, se firma, por exemplo: amar-se e amadorar-se, porquanto do sexo não ser fim – tampouco; um meio. – Claro, claro!, compreendo que não me foi compreendida sequer uma vírgula, mas apenas eu prossegui... Eles se beijaram na concepção do amor pueril; os segundos perenes, ressonavam, como uma visagem edênica que na sua essência não devessem suscitar mais que uma incúria, isto é, um diabolismo:
Não se é devido beijar um irmão!, e o que esse vivente conhece dos amores?. Refiro-me que olhou bem na fundeza dos meus olhos para sentenciar aquilo. Não se beijam os irmãos – ora!, ora ora ora... Que purismo, que beatitude! – torcia-lhe os lábios e arrancava-lhe as vistas, cretino!, deixe-me contar:
Beija-se quem o quiser, ama-se quem o quiser, porque dois bichos se amando, não há leis de homens para abjurá-los, e a bem dizer da realidade, dos homens, tão somente, quereríamos uma existência comensal: não se interferiria no paradigma de sociedade, não se induziria uma insurgência ao coletivo, malgrado não se fossem refratar sua co-existência: come e veste como tais: ama e vive com vós. De tudo, porque no ato de precisar, por que não prover?, os homens entendem os desejosos de folga divina, só não os veneram:
Visto assim, falado assim eu vou achar que o amor é vadiagem; Tu não vais achar nada, tu não tens que achar, tu não tens nada!, aquieta e aquiesce. – Débil, tal verborragia é sempre vinda das crianças, mas que não: os homens todos são hipócritas, maculados, repulsivos. Prefiro retomar: Entendes que saber o amor não é prová-lo?, pois então, o mais de todo é meditar, intuir, presenciar que o amor, que esse amor falado demais, embora pouco sabido, é dos homens como o colibri; Eu não sei entender; Ele convém ir para trás!; Isso é bom do amor?; Isso é bom de tudo; saber fugir com elegância, claro, pessoa, pois daí funciona dele não permear os homens; eles não o buscam, eles o enfeitam!; Eu não desejo amar, desejo ruir munido dos meus olhos apenas; Queres recriar teu mundo?; Quero registrá-lo!, e quero sê-lo!; Uma ação de viver é insidiosa demais para ocupar espaço na lata de lixo do histórico humano, vive, ama e morre!. – Pudera que tais palavras não surtissem aquela corrosão da vileza nos espíritos ineptos. Ai deus!, que eu me abstenha dessa culpa. Dessa fardo, e desse mister; não consinto saber, de tudo, ainda ser loquaz. Mas uma história principiava:
Por isso que se copula onde quiser, por isso de tu o dizeres?; Deles os motivos, escoa-os; e, agora, tu terás as feições que o mundo desconhece: o amor se dá, o coito se pratica. – Percebo que se perguntou, ‘mas entre irmão?’, sim, coisa, entre vidas, simplesmente. O efeito dessa minha ferroada sucedeu regenerativo, e podia-se considerá-lo não mais uma alma devassada, Sem restrições, sem elucubrações?; Aprende que são abstidas, formalmente, todas as formalidades, essa é a única procedência, esse é o único anelo!; Convém...
Convinha. Por vezes, me proponho a analisar do que eu mesmo pertenço convicto; e pasme, que, também, por vezes, faltou-me respostas às indagações:
No entanto de o sexo não ser fim nem meio?; Conseqüência, néscio!, pormenor; compete como em ser precisão dos pobres de espírito; Dado que apenas o pleno de espírito é deus...; Dado que apenas o pleno é deus: todos somos precisados; Então, vales-me de que carecendo das delícias da carne, somos escória?; Jamais, a custo que vós sois, e tanto como a mim, homens!; Clareio ao fim, pertenço aos erros, mas sei que lhes fujo, isso é incoerência!; Não se acerta almejando a perfeição; Então, novamente, sou abjeto por aspirar a uma bondade única?; Não é o que desejas, tu necessitas e procuras a expansão da vaidade, que ao mundo seja gritado teus feitos benévolos e sagrados; Isso não é uma verdade!; Pois...se não o for, me digas repetida vez, dize!; Isso...isso...desfiro meu lamento, sou um asco!; Dize!; Eu não posso, eu não o sei.
Em tempo que aquela alma assistiu desprovido de costumes maus o meu falatório. Coitado, ordinário. A pureza não consiste em calar os impulsos, apenas em não os ter. Mas nunca conter:
Perplexo, regozijado; abastecido e insaciado. – Disse-me isso e inferi que contasse do seu estado de espírito. No silêncio da verdade, éramos dois, a bem que jamais o deixasse saber, não obstante isso concretizasse uma gravidade na linha, que hoje ainda pondero, dos meus pensamentos. Percebo que te amei, e disso materializo tua própria palavra: amo, amo, amo e estou aqui, hoje, e todo, para ti; Hipocrisia se eu estranhasse ou reprovasse; Logo...logo, é isso?, essa despropriação de querença do gozo designado?; Também, além; essa deferência ao material humano da perfídia, que é a conceituação própria, o veredicto insano; Falas-me do preconceito?; Falo-te; Mas e de quem falaste afinal, por que irmãos se querem se disso resulta ser menor, seria devido, pois, não se precisarem! sim?; Seria devido não devassar ninguém, seria, venerar-se um ao outro, e, precisar ou não provar a boca alheia; Onde está a sublimidade disso?; Nenhures!; E pode assim?; É assim!; Sabes-lo?; Quê?; Dos fraternos, quem os eram; Sim, eram aves, eram colibris; Também, embora fossem, em verdade, anjos...
Isso o desagradou, naquele íntimo de intento para reavaliar-se a si. Mas eu sei, ele repugnou...e, tão logo, seguiu:
Amassem outros, quisessem outros, errariam?; Por quê?, tu sentes apenas amar um deus?; Em hipótese, disso que preciso saber, erro nisso, em precisar sentir outros gemidos?; Aborreces a quem?; Pois, aos que não pensam como eu; Eles te fazem bem?; Não, eles indiferem; Sentir-te-ia bem?; Desligado dos outros e suas influências?, plenamente!; Logo?; Eu estou certo em precisar; Sim; E em não precisar?; Também, o amor é de quem quer, não dos que preferem; Isso tudo angustiaria o outro; Ah, sim, e isso, achas certo?; Não; Dizes-me, então que se o fizessem a ti, tu plenamente consentiria?; Não; Pois?; Talvez não conceba a idéia de me deferirem a outro; Isso consistiria em algum deferimento?; Eu não sei, eu realmente não sei.
Escutou que mais depressa digeriu aquela falação. Amado, como enterneciam seus olhos ao brilho do saber. Não esqueço, mas deixa-me sentenciar:
O sentido é de todos e todas as pessoas se precisam para crescer; uma a uma, contudo, há os que subsistam suficientemente autônomos e renegados por si próprios. O certo é não ter impulsos, e não contê-los; Lembrei, isso é difícil, preciso de tempo; Amor meu, todos precisamos, tu o tens, tu o uses!; Eu estou tão superlativo, quero me expandir, quero viajar e transcender as vias normais, fugir dos homens, no entanto, que, hoje, seja contigo; Sim; Dá-me a mão; Ei-la; Beija-me!
...