Tuesday, May 25, 2010

Se eu alcançasse não me sentir entregue,
imberbe adolescente com seus dentes de leite,
meu esforço de estimação seria então escrever cartas em homenagem a todas as cidades por que passar. O tempo que for, e disso viver:
nos homens e ruas de qualquer cidade,
dos seus pombos e em todos os seus cheiros mais originais
catar a fímbria da minha pele; supor as fotografias que nunca perceberão
os passantes, a policia, uma donzela e seu cachorro - o trejeito da aristocracia esparso num mendigo louco. Conheceria cada folha do espaço, suas estações de nascimento e morte]
pichações e sua biografia, buracos na estrada, sítios de amores findos
pontos-de-encontro de suicidas, subúrbios de eternos insones, árvores patenteadas pelo hábito. Buscaria a companhia das construções de monumentos anônimos, repudiaria a música dos cantores cegos para, numa delicadeza de verso,
traduzir o meu corpo em cidade. Se eu alcançasse não me sentir entregue
a todos os lugares-comuns que reconheço, descrevo e lamento em cartas
longe de Porto Alegre.
Cada coisa que inventei morri por ela
e em cada morto que fazia eu mentiria
se os remoesse em querelas, qual aborto.

Porém, foi como filho que as tomei, às coisas
que inventei. E por elas hoje velo, me proíbo
e abstenho. Juro minha eternidade, meu nome
e cenho nos contornos em que cada história pressentida,
muitos mais que um soco forte, escondeu os rumos da minha vida
e descobriu o fim da morte.

Friday, May 21, 2010

A três tudo é mais gostoso
um trio não terá vícios senão a festa (ou festim)

mesmo que em triângulo vicioso

terá em cada aresta seu início, seu fim

e sua meta.


é sina que já não cabe:

todo mestre sempre ensina

o que sente e nunca sabe.