Saturday, November 12, 2005

Soneto do Palhaço e seu Sorriso

Minha letra, levo em peito ostentando
Aquela em que mais íntimo estive
Aos amigos cansei-me procurando
Em urros doloridos que icontive


Intentam, recordar-me num arroubo
Mesmo os de pura índole e bondosa
Despercebem em minha alma fulgurosa
Que meu riso não é meu é de quem roubo


Nua idéia que em mim tomou moldura
É essa de esconder em tais figuras
Minha face impura, e o que nela há de ruim


E quão é vil essa inconstância e rude
É comigo. E em verdade não se ilude:
Cansei de rir pra outros, não choro mais pra mim

Wednesday, November 02, 2005

Crônicas


Nada mais injusto que chamar puta de puta. Todo mundo diz, faz que entende, mas ninguém compreende. É da natureza o sexo. E, cientificamente, a única desvantagem da poligamia é a DST - além do olho roxo e o castramento. Acredito na fidelidade e acho lindo. Acho lindas também a vizinha do 402 e a atendente da fruteira. Desde que resolvi ser fiel, isto é, quando perdi minha última namorada, andei pensando e repensando no assunto, constatei a improdutividade desse tipo de relação. Com as ressalvas naturais. Hoje eu já acredito nesse papo de que, fora o paulista, o homem pense na mulher alheia doze horas por dia. As outras doze ele já está acordado e na casa da vizinha pensando na atendente da fruteira. Mas não radicalizo como os que dizem que o homem põe a mulher em tudo exceto o futebol, - Afinal, tanto as mulheres quanto os homens são livres, leves e loiras.- E se há coisa que o brasileiro goste mais do que chutar uma bola é chutar a mulher. Tirando os cariocas, que pedem licença e levam chutes. - Penso se todos conseguem, tranquilamente, conviver com a idéia de ter a Cicarelli na cama ou o Gianechine na cozinha, sem camisa e de avental, e não interferir no dia-a-dia. É passível que sim. O homem, como qualquer animal, pensa nas fêmeas. E vice-versa. O homem, como qualquer animal, quer transar com outras fêmeas. E vice-versa. O homem, como qualquer animal, não gosta de sogras. E vice-versa. E o homem, como legítimo animal, não aceita ser traído.
Pois é isso que ironiza. A mulher também sente calor quando vê um tanque - Tudo bem gente, nada de ironias. -, quando é pegada de jeito, e, pasmem, quando vê uma bunda redonda. E quando é tratada como uma flor, acredite! Então me pergunto se é legal, ou mesmo correto, retrair essa sensação. Veja bem, não estou incitando todo mundo a sair correndo por aí e realizar suas fantasias sexuais - afinal, eu não estou no Brasil - mas questionando a mim também sobre esse fato. Que é fato. Quando, por exemplo, tua mulher sai contigo e um casal de amigos e, obviamente sem que tu saibas, se sente atraida pelo parceiro da amiga mas nunca concretize nada. Mesmo que já tenha idealizado. Ela procura não dar brecha a ele. Procura nunca ficar a sós com ele, não dá bandeira alguma. Se tu nunca souber do que passou, obviamente, será exemplo incontestável de fidelidade e companheirismo. É?, e ela não será uma esposa frustrada por isso? Será que ela procurou sentí-lo?
Penso que é uma questão muito mais física do que moral. Porque há a coibição de um processo inato ao ser humano. Que não está em prejudicar o próximo, mas saciar uma necessidade pura. Estive pensando e analisando casais modernos, que aceitem esse tipo de relacionamente. Nunca experimentei, não pretendo, e nem sei se são felizes, mas há aí, para mim, o mais íntegro dos relacionamentos. Pelo menos o mais sincero. Não acredito que haja um casamento sem mentiras. E quem disser o contrário é porque mente. Quem nunca pensou em outra pessoa que gema!...E Deus possivelmente não será contra isso. Como diria o ditado: " É dando que se concebe".
Em todo o caso, corro para minha casa afim de cancelar o jantar com o meu chefe e a esposa dele. - O meu emprego não perco. Mulheres são etéreas.

Tuesday, November 01, 2005

Entre nós,
Não há nós cegos;
Há Eus Líricos.


Soneto à Ana Verônica


E doce e linda e doidivanas,
Que esta e qual: - Dama que sejas!
Que é em lábio o gosto das cerejas
As que me sorve e em que me enganas


Enleio fútil, amor anil
A corpo é mente e voz queixosa:
E que versátil, esmo e febril
Eu, inconstante, arder à rosa.


Se roubo eu, da rosa o espinho
É crueldade e nesta gana,
Crava-me a dor, arde o carinho


Que a flor é mais que flor, mundana!
Se já me dói estar sozinho
Que doerá não beijar Ana?